Cicatrizes no brincar com e sem os games
post em 09/07/2013
Suely T.S. Martins
Ponderando sobre esse brincar retido numa tela, faz com que a mente se remeta aos tempos em que as brincadeiras aconteciam com um cabo de vassoura, fazendo o papel de cavalo, um estilingue ou uma espoleta sendo a arma de ataque. Convêm salientar que o discurso está, unicamente, baseado na visão materna da autora.
As brincadeiras acontecem com a mesma base de batalhas, regras, desafios, frustrações, integrações, choros e até, gargalhadas.
Acontece, porém que com a tecnologia favorecendo e concretizando a fértil imaginação da criança, uma explosão de possibilidades e medos do desconhecido invade lares, educadores e escolas.
Duas linhas de pensamentos entram em conflitos contínuos. Aquela que lamenta as brincadeiras atuais e a ausência das crianças nos parques rodando pião ou pulando cordas.
Outra que se impressiona com os games e sua influência positiva nas crianças com a fluidez de raciocínio, imaginação potencializada e a superação de desafios, amadurecimento e espontaneidade.
Cicatrizes aparecem como as características negativas das brincadeiras. Mas todas elas sempre apresentaram seus riscos e necessidade de supervisão, acompanhamento e orientação.
As cicatrizes do físico sempre foram mais evidenciadas e talvez por esse motivo, mais rapidamente socorridas. Ao contrário daquelas ocultas na alma, que se transformam em verdadeiros tumores ou então os ferimentos curam-se naturalmente com os anos, se é que curam.
Alguns pontos percebidos no cotidiano, desta que escreve, expõem as falhas humanas na educação e evoca o socorro dos governantes em executarem, responsavelmente seu papel. Os pontos que ampliam esta falha humana podem ser facilmente listados:
- carência de segurança nos espaços públicos para passeios de bicicleta, rodar pião, jogar bola de gude, pular cordas ou simplesmente fazer um pic-nic.
- ameaças constantes que impossibilitam as crianças saírem em grupos de suas escolas sem necessidade das peruas escolares. Isso favorecia o contato do grupo fora do ambiente escolar, ampliando o grau de amizades.
Entretanto as listas de justificativas das tais, falhas humanas não curam cicatrizes de solidão, abandono ou consumismo exacerbado.
A ausência de acompanhamento nas antigas brincadeiras sem os games poderiam ter pedras atiradas que matavam passarinhos ou machucavam, acidentalmente, seus companheiros. A atenção dos pais concentrava-se em socorrer os pequeninos com os curativos nos ferimentos das pedras.
Atualmente há que socorrer com a presença da conversa, da companhia no brincar dos mesmos joguinhos, para assim compreender, minimamente, o assunto e trazer essa imaginação para ação construtiva.
A atual geração grita silenciosamente por acompanhamento. Seus gritos estrondam quando as frases soltas aguardam um complemento, que nunca acontece. Então elas sempre são finalizadas com o famoso “tipo assim ... entende?”
Aquele que se recusar a assistir os “animes”, jogar os games ou mesmo buscar informação do universo da informática, será que conseguirá responder ou completar a frase?
Brincar junto, não é fazer de conta que está junto, porque já foi-se o tempo em que os gritos da alma eram silenciados com a ditadura, o adestramento dos reios e olhares fulminantes.